terça-feira, 24 de agosto de 2010


Sorriso: arma quente, como diria Belchior,
gosto dos traços do rosto e a voz me deixa mole,
ele escolhe os cd’s as cores,
ele escolhe não...
(Sutil dá o tom da minha noite)

Gosto do passeio que faz em mim,
o lúdico é de bom gosto,
e ele tem gosto de primavera, das primeiras flores
(suave primavera antecipada que seus lábios me permitem inventar)

Dormiu do meu lado da cama,
sorrimos um pro outro ao acordar,
deixou um sorriso embaixo do travesseiro
voltou,
deixou mais um na sala
(o mais bonito dormiu no meu pescoço).

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

a quarta parede







Sou um pequeno cordeiro que observa.



Como a vida segue em círculos e que nada pode durar mais que uma frase entusiástica.



Eu sou um pequeno cordeiro que se sentiu atraído pela intocada condição humana. No conforto do sonho imediato.



Que eu seja abençoado por esperar perto de uma luz verde, numa estação escura na Lapa, me escondendo de capangas á serviço da justiça.



Tenhas bondade de uma pobre alma que já não sente o trago e que almeja ainda acertar o alvo, daqui, sem levantar suspeita!



O meu dia está salvo quando toco a carteira e disparo incessante, até derrubar a caça e ver o jorro brotar no chão.



Não me viram, mas, sempre vêem.



sábado, 14 de agosto de 2010

these days


E eu acho que falei demais a semana toda, acho que não quero mais essa necessidade de falar.
Não quero existir pra ter que falar.

Foi mais um daqueles tempos negros em que eu nunca sei se me enganei, se quis me enganar, se estava fingindo, se valho ou se não quero valer.

O frio tem seu cheiro.
Abracei o travesseiro e chorei bem menos do que eu precisava.
Chorei por você não ser mais quem você era, chorei por não ter mais porque amar-te, te odeio por ter tornado tudo assim.
Chorei, porque eu não tenho mais razões pra te amar, nem te conheço.

Aconteceram coisas horríveis e é tudo porque você não é mais você.


Queria chorar mais.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

eu quero é botar meu bloco na noite sem amanhã.




Eu queria, antes de querer tudo que eu penso querer agora (e nem tão bem entendo); aquilo de "bom" que você me trouxe ou jogou em cima da minha cama limpa(eu, honestamente, não sei, não me recordo). Eu almejei uma série de outras coisas bem menos egoístas do que as que me degradaram no seu mundo insuportável... Estar ali, tão somente por mero amor; amor que hoje eu sei que é doença que dá uma vez só e passa: depois a missão torna-se neura de caçar aquela merda toda que te tirou de você mesmo e que é só merda mesmo.
Ninguém mais quer comer ninguém que vive com as unhas sujas da merda esquecida e pior... perseguida neuroticamente.


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”Caba logo mundão” hahahahahahaha

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

tea

- Me chamo Vena. Posso ajudá-lo?
- É! (sorri) Sobre ontem, nos flertamos e algo de constrangedor ocorreu!
- Ah, tá! Agora sei quem é o senhor! O vizinho.
- É, não vou mais lhe incomodar. Só vim até aqui para lhe dizer isso.
- Não, não há problema nisso, tenho péssima memória! Eu causei tantos problemas assim para que o senhor viesse me procurar?
- Por favor, senhor não! Leo, moro em frente.
- Senão se incomodar estou terminando uma edição. Podemos nos falar depois?
- Claro! Eu sempre chego ás nove. Tchau.

divisor comum

imagem: Sofia Borges- sem título
Leo deveria ser chamado de idiota. Por que ele quis tocar a campainha da casa de Vena para lhe falar algo estúpido, do tipo: - Perdão! Eu não queria ter feito o que fiz!
Se já o fez, então perfeitamente estúpido é, com todos os seus desajustes emocionais que lhe atormentam desde quando descobrira as relações humanas.
Ele vai procurá-la, vai bater em sua porta para dizer que pede uma chance de ficar mais próximo e que ela tem de se comportar como uma ingênua, que só sabe provocar sexualmente os pudores masculinos.
Então a porta se abre, Vena não fez uma cara de surpresa boa, fez cara de que estava ocupada com outras coisas e que as interrompeu para atender ao idiota.
- Desculpe-me por ontem!
- Sobre o quê o senhor está falando?

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

fata morgana


Diversas vezes praticou o vouyerismo. Ficava á espreita aguardando o espectro de Vena surgir na janela da sala, ampla com porta pivotante que garantia 360º graus de excitação.

Logo mais se culpava, ia ler seus manuais de abuso de propriedade. Nesta Lei, reconfortava-se com ninharias, afinal, ele é quem define as regras e pune os que não agem de acordo com a legislação.

Não sabia o nome de Vena, não sabia nada sobre a garota.

Vena é realmente bem esquisita. Pratica hábitos muito diferentes da vizinhança. Não deixa de ser atraente, mas, tem algo de vamp nela que não estamos acostumados.

Leo sentia um prazer estranho. Não lhe interessava tocar naqueles seios, deslizar as mãos por aquelas costas, morder a nuca.

Uma manhã característica. Num clima frio, passando para a primavera. Depois do café, Leo sai da casa para varrer as folhas que caem sempre das copas e recolhe o jornal.

Depara-se com uma imagem única: Vena leva o lixo e distraidamente uma alça de seu robe cai, mostrando um seio com uma pinta rumando ao colo.

Ele permanece paralisado quando Vena percebe a observação, fitando-o despreocupada e tão lentamente recobre seu ombro.

A garota acomoda o lixo e entra sem emitir qualquer som. Leo reflete por um instante acreditando que não deveria ter feito aquilo.