terça-feira, 26 de outubro de 2010

reticência

Essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura.

Charles Bukowski
#########################################################################Espero não ser como muitos escritores,Não serei chata e nem aborrecida,Não serei narciso e não serei mais uma.Só quero escrever o que sinto e permitir em meu coração, a verdade desse espaço negro.
Amém Charles

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A criança - Casa de chá Bangladesh


18:29h: Suen pensa mais uma vez na criança.
Sentada na praça debaixo das palmeiras da Luz, descruza as pernas levantando-se, segue em direção a Pinacoteca.
Hoje é o seu dia de folga. Comprou ingresso para o Concerto das Bachianas, preferiu ouvir a orquestra ao vivo do que na rádio de sua quitinete.
Gostava do Trenzinho do Caipira e ficava emocionada quando a ouvia.
Acabara de se misturar às plantas e tornar-se-á parte daquela vegetação esplêndida remanescente dentre
os tijolinhos enferrujados, ela já não era mais matéria, apenas vibração.

sábado, 23 de outubro de 2010

uma estória socialista - casa de chá Bangladesh

Tinha um livro que Suen lia muito. Não mostrava muito. Quando ficava na varanda dos fundos, apenas seu amigo Jonas compartilhava da leitura. Ele ficava perguntando o que era socialismo.
Sutilmente Suen apontava para seus uniformes:
- Isso é uma forma de socialismo.
- Andarmos uniformizados?
- Não termos distinções.
- A onde quer chegar lendo isso?
- Em lugar algum.
- Já sei! Quer virar deputada?
Não era isso que Suen definitivamente gostaria de ser. Seus estudos sofreram um intervalo por causa de uma criança. Um filho que não fora desejado e abandonado numa caixa.
Ela não contava isso para ninguém. Ninguém sabia da outra vida de Suen, sem seu uniforme "socialista"perfeito.
O passado às vezes retoma como uma tempestade, revelando coisas que insistimos em esconder por debaixo do tapete.
Suen não sabia mais dessa criança. Também não queria procurá-la. E se a encontrasse, seria como no regime de Mao Tsé-Tung, uma estranha totalitária com sede de revolução em qualquer lugar. Usaria suas armas, como em toda as revoluções fantasmas.
Suen era a "camponesa" bastante abalada com sua situação civil, porém, a criança não seria a sua arma de revolução, seria um escapismo em sua memória.

a noite na rua Guarani - Casa de chá Bangladesh


- Eu não espero por ninguém e ninguém me espera.
- Aqui é tão diferente do ambiente da casa.
- Escuro e feio.
- Senti ansiedade esses dias.
Suen entra num prédio antigo. O jovem permanece por pouco tempo. A escuridão o leva.
No dia seguinte é tudo igual. Tem que se t
rabalhar. Tem que se esquecer das coisa
s apresentadas no onírico.
Separar as ervas para os preparadores antes da casa abrir. Arrumar as mesas. Colocar as flores. Vestir o vestido.
Prender os cabelos.
Aromatizar as salas. Abrir as janelas. Preparar as toalhas.


sexta-feira, 22 de outubro de 2010

casa de chá Bangladesh

Não sei como ainda essa arquitetura permanecia num lugar tão feio, tão intocável, atraindo homens conceituados e elegantes.
Uma casa em design mouro que servia chá.
Haviam três moças que serviam-nos e dois preparadores apenas. Era um local realmente pequeno que estava consolidado quase na esquina de duas ruas desertas próximas a uma avenida principal do centro.
O aroma era sentido na calçada e logo uma fumaça hipnotizante nos conduzia adentro.
Na última noite, um rapaz escolhia no cardápio sozinho. Não esperava alguém. Não tinha pressa, não estava perturbado e tampouco insatisfeito.
Tomara três tipos de chá. Permaneceu ainda por um tempo e depois deixou Bangladesh.
Dois dias depois ele retornara. Fez questão de ser apenas servido por Suen.
Era comum isso. Alguns frequentadores escolhiam as suas servidoras.
- Eu lhe conheço!
- Eu nunca sai dessa casa.
- Você pode ter estudado comigo? Ter sido minha vizinha ?
- Não senhor, desculpe-me, mas, sou boa fisionomista, logo o reconheceria.
Suen foi atender a outra mesa. O jovem a vigiava, rodopiando dentre as mesas.
- Estamos fechando senhor!
- Não precisa me chamar de senhor! Gostaria que se sentasse para me acompanhar.
- Não acompanhamos clientes, sinto muito!
- Eu pago a mais pelo serviço!
Suen senta-se.
- Eu não estou tendo um mês bom. Quero largar meu emprego. A mulher com quem eu estava saindo casou-se.
- Eu gostaria de ouvir sua estória, mas, estamos fechando.
- Eu posso lhe esperar?

CLOSED

- Posso lhe dar uma carona.
- Moro perto, não precisa. Obrigada!
- Gostaria de conversar um pouco. Desculpe-me, não sei nada sobre você, se é casada, se está esperando alguém, sei lá!
- Você pode voltar ao Bangladesh quando quiser. Estarei lá. Exceto às segunda-feiras.
- Tenho a impressão que não lhe verei mais.

continua . . .

gueixa


Lábios adocicados iguais cereja e pele virgem como neve, a seda e dança envolvendo o corpo fino.
O prazer desenhado pelas mãos no leque, esconde-esconde.
À noite o dragão abandona o mar, parte em direção ao sentimento.
Encontra a garota e revela seu segredo.
Amá-la já não é mais possível. Ele busca um espírito, viaja longe e nada encontra. Retorna fragilizado.
Para que seus sonhos não morram, ela continua sua dança, em seus contornos e faz refém outros corações.
Por alguém, recebe a mensagem de que ele está morrendo. Abandona o shamisen, despe seu quimono e não serve mais os chás.
Ele está ferido.


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

capricho


Queria ter a genialidade de Picasso ou a força de Matisse para criar o mundo.
Ter o empurrão do toque do dedo da Criação e me permitir envaidecer com tantas forças me arrastando para o lado da matéria escura.
O Universo diante de tantas estrelas e pós, de planetas vermelhos e azuis, com seus blackholes, com suas expedições enlouquecidas à lua de queijo, nos entristece por esconder as reais intenções de tudo isso.
Ora a verdade é a amiga do homem, na verdade, só enlouquece os que a buscam como fonte de prisma.
As revelações mais catastróficas são de fato interceptadas pela mentira e acaba gerando certa empatia ao invés de ojeriza.
A verdade é sempre cruel, porém necessária, mas, não para se obter a verdade absoluta e sim o fato sobre outro olhar.
O que é a verdade senão um conceito? O que é a mentira senão outra idéia?
O que fazemos de verdade e de mentira? Se é que existimos.
O que prega a bíblia senão relatos históricos que com seus simbolismos nos lançam chamas para o futuro?
Jesus Cristo morreu sob a verdade de um povo desacreditado e jamais pela verdade eterna.
Os filósofos na praça debatiam a verdade e essência que o homem era composto, pois, se encontravam na escuridão.
Madonna cantava a emancipação e de repente teve filhos, casou-se e caiu na verdade que sempre lhe pertenceu.
Não somos atores carregados de verdades?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

la gare

Aportar na mesma estação, em seu ponto final e não se misturar a tanta feiúra.
A única coisa doce que lá possui é alguém esguio com olhar de garoto.
Quando damos sorte, nos encontramos, ficamos conversando através dos gestos, da passada rápida no cabelo e um olhar mais despreocupado.
Eu sempre me sento no mesmo banco solitário e o outro sempre vai de pé.
Ele passa por mim encarando-me firmemente, como seu eu fosse sair correndo de encontro aos seus braços.
Aí me dá moleza típica sexual.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Que recherchez-vous?


Le Bien? Le Mal?
Lorsque vous cessez de cherchez?
Jusqu´à ce que l´arbre se trouvent sur le plancher quis est efficace l´éternité?
Dichotomies nous sommes confrontés dans la vie, de manière à offrir langueur et de plaisir, d´autres en début d´horreur, on frémit.

Por que somente o mal nos incita? E que bem é esse criado pelo falso cristianismo que nos aperta as entranhas com seu moralismo?

Anima est locus intellectus.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O diabo aconselha

Nessa sopa de sons, aquela mosca que insiste no bar, fica rodopiando até cair no meu prato.
O que eu farei com a mosca agora ensopada, misturada às mandiocas e batatas?
Só enchendo a cara de muita vodca! Quem sabe essa mosca não é fruto de uma imaginação infeliz?
Deixa o cara tocar o sax apertado, parecendo uma corneta no brejo.
Ah, ontem fiz um ensaio, coisas desenhadas numa folha de pão.

PACTO

Lendo Spleen e retomando a consciência.

Tudo começou com um projeto esquizofrênico onde convidei uma gata listrada para ser a minha atriz.
Uma bagunça de sentimentos ameaçada pela verdade.
Não quero mais a verdade. Pela verdade heróis morrem e esquecem de realizar o que pode ser de melhor.
Nesses últimos anos, meu contrato com o demônio firmou. Sou escrava das leituras do surrealismo e Blake, esqueceu-me.
Meu coração aflita como essa cidade, onde o tempo é o regente das desilusões, que te faz enxergar o rio negro navegador em nossas almas.
Permita-me entender que então os sonhos, são escapismos de uma mente que não morre mesmo estando doente.