quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Poemetos

a) manhã
Ninguém ainda. As rosas me saúdam
e eu saúdo o silêncio
das rosas.

b) ausência
Aqui ninguém
e nuvens.

c) ave
Asas suspensas em
instanteluz.

d) lua
Integralidade.
Fixidez.

e) Narciso
A flor a água a face
a flor a água
a flor.

f) primavera
Da não-espera
acontecem as
flores.

g) lago
Tensão
fria
da água: paz - em - ser.

h) espera
As janelas abertas.
A porta apenas encostada...

i) vaso
mas incomunicante.

j) fim
A ausência das rosas. O caminho
Já sem ninguém, para o silêncio.



Publicado no livro Helianto (1973).

In: FONTELA, Orides. Trevo, 1969/1988. Il. Mira Schendel. São Paulo: Duas Cidades, 1988. (Claro enigma

quarta-feira, 24 de novembro de 2010


Acho que sou um menino.

domingo, 21 de novembro de 2010

Filisteu como oráculo - A casa de chá Bangladesh

Olha só como eu consigo despertar sem me machucar!
Dentre todos os exercícios malucos de sobrevivência, mexer com a os anti depressivos foi o meu maior desafio.
Era como se eu estivesse sedada e quisesse atravessar pelo espelho ou sair voando pela janela.
Eu posso perguntar para o senhor Filisteu se serei completa até os meus próximos cinquenta anos?
Eu não sei como sair dessa confusão. Não domino mais minhas mãos. Elas vão batendo as teclas, cada letra e palavra surgidas, cada frase e parágrafo que falam da abstração.
O poder de degustar a dor.
Esse é o parto da criação. Tantos anos enfiada dentro de mim e em uma única madrugada consigo cuspi-la, sem remorso.
E aí amigos, nos deparamos com a palavra revólver. O que esse texto quer dizer com armas?
Eu não sei! Só obedeço a psicografia que nem tenho idéia de onde vem. De cima? De baixo? Tanto faz, a criação surge.
O revólver, voltando a ele, calibre 38, o mais fácil de manuseio, o menos estético da espionagem, o mais pobre e o mais barulhento, repousa nas mãos de um personagem qual não tenho o nome.
Ele será muito útil quando precisar eliminar um problema, mesmo se ele for do meu tamanho e muito parecido comigo.


sábado, 20 de novembro de 2010

filisteu adormecido - a casa de chá bangladesh

Ela assoprou e a luminária apagou-se.
A escrivaninha parecia gigantesca, era como se as teclas da máquina de escrever alçavam o teto do quarto. O papel se dissolvia, as palavras desenhadas estavam mergulhadas nas gavetas.
Todo o texto desmanchava-se e em partículas de água que tocavam o chão.
Por alguns segundos Ligia presenciou o diabo de suas idéias tomando forma e tudo ali naquele espaço que só cabia a escrivaninha com suas teclas.
A imaginação é uma virtude, uma graça do anima, entretanto, um talento de ira e perversidade.
É também a forma do medo que flutua do abissal. Do sonho e do toque. O vazio e o silêncio.
As flores do mal.
- Não deve ser fácil escrever um livro! (lembrança do homem alto, magro e comum)





quarta-feira, 17 de novembro de 2010

o encontro do filisteu - a casa de chá bangladesh

Não é tão fácil escrever um livro. Nem sei se escrever faz tão bem a alma como as pessoas dizem.
A boa alma de Ligia não consegue desvencilhar as tempestades da filosofia.
Seu tormento começa num café, na esquina da Boa Vista com a Quitanda, revirando as páginas de um surrado livro de bolso, Beckett e nada mais para falar de desavenças e coisas ligeiramente negativas.
A página ia esboçando rascunhos tímidos e se perdendo no clarão da luminária amarelada baixa que sussurrava emcima da mesa.
Sobre o quê escrever?
Tantas opções e falta delas. Se quiser pode falar de morte, amor, dinheiro e filosofia. Há pessoas que somente se importam na área do Direito e deve-se falar estritamente na área do Direito.
Quando é assim, não precisa nem falar, a vida faz toda a diferença e sempre as coisas surgem de última hora.
Um rapaz magro, comum, alto, surgiu do nada e resolveu sentar-se à mesa. Ficou olhando várias vezes para Ligia e tentou inciar alí uma conversa.
- Não deve ser fácil escrever um livro!
- Desculpe, você falou comigo?
- Eu é quem peço desculpas, acabei me intrometendo!
- Não sei como começar!
- Você sempre está escrevendo.
- E nunca sei o que escrevo!
- Poderia falar das relações sociais, das suas diferentes formas.
...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

casamento.


De novo o medo, o rastro das crianças mortas sobre os cobertores antes de adormecer.

Mas o medo é comida de formiga quando se decide ficar.

Decido ficar com você. Aprender a fazer café e a ser alegre.


Cobrir a casa com meu melhor humor.

Parar de fumar eu não vou, mas posso reduzir um pouco e viver um pouco mais.


Posso pintar as paredes e fazer o jantar.


Posso ser água, mato e quem sabe até flores, galhos, raízes.


Posso aprender a conviver com seu amor por mim e com a obrigação de ser feliz um dia.


Posso te amar e já amo...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

próximo

Liberdade, Fraternidade e Igualdade?

Quando falamos em política, recrudesce nossas condições.
Isso não é mais novidade, não nos tornaremos mártir pelo o que é escrito. Nossas ações são mais esclarecedoras pelo fato de conhecermos bem a briga a qual estamos nos enfiando. Faça. Caminhe. Procure a verdade dessas pessoas que estendem seus tambores e tochas promovendo um ar de emancipação.
Nós somos o governo e não recebemos ordens senão as queremos.


Liberté, Égalité, Fraternité?

Lorsque nous parlons de politique, est l'intensification de nos conditions.
Ce n'est pas nouveau, nous ne pourrons pas devenir un martyr pour ce qui est écrit. Nos actions sont le plus éclairant et en connaissant la lutte à laquelle nous régressons. Faites-le. Marche. Chercher la vérité de ces gens qui prolongent leur tambours et des torches la promotion d'un air de l'émancipation.
Nous sommes le gouvernement et ne pas prendre les commandes, mais nous les voulons.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

reticência

Essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura.

Charles Bukowski
#########################################################################Espero não ser como muitos escritores,Não serei chata e nem aborrecida,Não serei narciso e não serei mais uma.Só quero escrever o que sinto e permitir em meu coração, a verdade desse espaço negro.
Amém Charles

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A criança - Casa de chá Bangladesh


18:29h: Suen pensa mais uma vez na criança.
Sentada na praça debaixo das palmeiras da Luz, descruza as pernas levantando-se, segue em direção a Pinacoteca.
Hoje é o seu dia de folga. Comprou ingresso para o Concerto das Bachianas, preferiu ouvir a orquestra ao vivo do que na rádio de sua quitinete.
Gostava do Trenzinho do Caipira e ficava emocionada quando a ouvia.
Acabara de se misturar às plantas e tornar-se-á parte daquela vegetação esplêndida remanescente dentre
os tijolinhos enferrujados, ela já não era mais matéria, apenas vibração.

sábado, 23 de outubro de 2010

uma estória socialista - casa de chá Bangladesh

Tinha um livro que Suen lia muito. Não mostrava muito. Quando ficava na varanda dos fundos, apenas seu amigo Jonas compartilhava da leitura. Ele ficava perguntando o que era socialismo.
Sutilmente Suen apontava para seus uniformes:
- Isso é uma forma de socialismo.
- Andarmos uniformizados?
- Não termos distinções.
- A onde quer chegar lendo isso?
- Em lugar algum.
- Já sei! Quer virar deputada?
Não era isso que Suen definitivamente gostaria de ser. Seus estudos sofreram um intervalo por causa de uma criança. Um filho que não fora desejado e abandonado numa caixa.
Ela não contava isso para ninguém. Ninguém sabia da outra vida de Suen, sem seu uniforme "socialista"perfeito.
O passado às vezes retoma como uma tempestade, revelando coisas que insistimos em esconder por debaixo do tapete.
Suen não sabia mais dessa criança. Também não queria procurá-la. E se a encontrasse, seria como no regime de Mao Tsé-Tung, uma estranha totalitária com sede de revolução em qualquer lugar. Usaria suas armas, como em toda as revoluções fantasmas.
Suen era a "camponesa" bastante abalada com sua situação civil, porém, a criança não seria a sua arma de revolução, seria um escapismo em sua memória.

a noite na rua Guarani - Casa de chá Bangladesh


- Eu não espero por ninguém e ninguém me espera.
- Aqui é tão diferente do ambiente da casa.
- Escuro e feio.
- Senti ansiedade esses dias.
Suen entra num prédio antigo. O jovem permanece por pouco tempo. A escuridão o leva.
No dia seguinte é tudo igual. Tem que se t
rabalhar. Tem que se esquecer das coisa
s apresentadas no onírico.
Separar as ervas para os preparadores antes da casa abrir. Arrumar as mesas. Colocar as flores. Vestir o vestido.
Prender os cabelos.
Aromatizar as salas. Abrir as janelas. Preparar as toalhas.


sexta-feira, 22 de outubro de 2010

casa de chá Bangladesh

Não sei como ainda essa arquitetura permanecia num lugar tão feio, tão intocável, atraindo homens conceituados e elegantes.
Uma casa em design mouro que servia chá.
Haviam três moças que serviam-nos e dois preparadores apenas. Era um local realmente pequeno que estava consolidado quase na esquina de duas ruas desertas próximas a uma avenida principal do centro.
O aroma era sentido na calçada e logo uma fumaça hipnotizante nos conduzia adentro.
Na última noite, um rapaz escolhia no cardápio sozinho. Não esperava alguém. Não tinha pressa, não estava perturbado e tampouco insatisfeito.
Tomara três tipos de chá. Permaneceu ainda por um tempo e depois deixou Bangladesh.
Dois dias depois ele retornara. Fez questão de ser apenas servido por Suen.
Era comum isso. Alguns frequentadores escolhiam as suas servidoras.
- Eu lhe conheço!
- Eu nunca sai dessa casa.
- Você pode ter estudado comigo? Ter sido minha vizinha ?
- Não senhor, desculpe-me, mas, sou boa fisionomista, logo o reconheceria.
Suen foi atender a outra mesa. O jovem a vigiava, rodopiando dentre as mesas.
- Estamos fechando senhor!
- Não precisa me chamar de senhor! Gostaria que se sentasse para me acompanhar.
- Não acompanhamos clientes, sinto muito!
- Eu pago a mais pelo serviço!
Suen senta-se.
- Eu não estou tendo um mês bom. Quero largar meu emprego. A mulher com quem eu estava saindo casou-se.
- Eu gostaria de ouvir sua estória, mas, estamos fechando.
- Eu posso lhe esperar?

CLOSED

- Posso lhe dar uma carona.
- Moro perto, não precisa. Obrigada!
- Gostaria de conversar um pouco. Desculpe-me, não sei nada sobre você, se é casada, se está esperando alguém, sei lá!
- Você pode voltar ao Bangladesh quando quiser. Estarei lá. Exceto às segunda-feiras.
- Tenho a impressão que não lhe verei mais.

continua . . .

gueixa


Lábios adocicados iguais cereja e pele virgem como neve, a seda e dança envolvendo o corpo fino.
O prazer desenhado pelas mãos no leque, esconde-esconde.
À noite o dragão abandona o mar, parte em direção ao sentimento.
Encontra a garota e revela seu segredo.
Amá-la já não é mais possível. Ele busca um espírito, viaja longe e nada encontra. Retorna fragilizado.
Para que seus sonhos não morram, ela continua sua dança, em seus contornos e faz refém outros corações.
Por alguém, recebe a mensagem de que ele está morrendo. Abandona o shamisen, despe seu quimono e não serve mais os chás.
Ele está ferido.


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

capricho


Queria ter a genialidade de Picasso ou a força de Matisse para criar o mundo.
Ter o empurrão do toque do dedo da Criação e me permitir envaidecer com tantas forças me arrastando para o lado da matéria escura.
O Universo diante de tantas estrelas e pós, de planetas vermelhos e azuis, com seus blackholes, com suas expedições enlouquecidas à lua de queijo, nos entristece por esconder as reais intenções de tudo isso.
Ora a verdade é a amiga do homem, na verdade, só enlouquece os que a buscam como fonte de prisma.
As revelações mais catastróficas são de fato interceptadas pela mentira e acaba gerando certa empatia ao invés de ojeriza.
A verdade é sempre cruel, porém necessária, mas, não para se obter a verdade absoluta e sim o fato sobre outro olhar.
O que é a verdade senão um conceito? O que é a mentira senão outra idéia?
O que fazemos de verdade e de mentira? Se é que existimos.
O que prega a bíblia senão relatos históricos que com seus simbolismos nos lançam chamas para o futuro?
Jesus Cristo morreu sob a verdade de um povo desacreditado e jamais pela verdade eterna.
Os filósofos na praça debatiam a verdade e essência que o homem era composto, pois, se encontravam na escuridão.
Madonna cantava a emancipação e de repente teve filhos, casou-se e caiu na verdade que sempre lhe pertenceu.
Não somos atores carregados de verdades?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

la gare

Aportar na mesma estação, em seu ponto final e não se misturar a tanta feiúra.
A única coisa doce que lá possui é alguém esguio com olhar de garoto.
Quando damos sorte, nos encontramos, ficamos conversando através dos gestos, da passada rápida no cabelo e um olhar mais despreocupado.
Eu sempre me sento no mesmo banco solitário e o outro sempre vai de pé.
Ele passa por mim encarando-me firmemente, como seu eu fosse sair correndo de encontro aos seus braços.
Aí me dá moleza típica sexual.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Que recherchez-vous?


Le Bien? Le Mal?
Lorsque vous cessez de cherchez?
Jusqu´à ce que l´arbre se trouvent sur le plancher quis est efficace l´éternité?
Dichotomies nous sommes confrontés dans la vie, de manière à offrir langueur et de plaisir, d´autres en début d´horreur, on frémit.

Por que somente o mal nos incita? E que bem é esse criado pelo falso cristianismo que nos aperta as entranhas com seu moralismo?

Anima est locus intellectus.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O diabo aconselha

Nessa sopa de sons, aquela mosca que insiste no bar, fica rodopiando até cair no meu prato.
O que eu farei com a mosca agora ensopada, misturada às mandiocas e batatas?
Só enchendo a cara de muita vodca! Quem sabe essa mosca não é fruto de uma imaginação infeliz?
Deixa o cara tocar o sax apertado, parecendo uma corneta no brejo.
Ah, ontem fiz um ensaio, coisas desenhadas numa folha de pão.

PACTO

Lendo Spleen e retomando a consciência.

Tudo começou com um projeto esquizofrênico onde convidei uma gata listrada para ser a minha atriz.
Uma bagunça de sentimentos ameaçada pela verdade.
Não quero mais a verdade. Pela verdade heróis morrem e esquecem de realizar o que pode ser de melhor.
Nesses últimos anos, meu contrato com o demônio firmou. Sou escrava das leituras do surrealismo e Blake, esqueceu-me.
Meu coração aflita como essa cidade, onde o tempo é o regente das desilusões, que te faz enxergar o rio negro navegador em nossas almas.
Permita-me entender que então os sonhos, são escapismos de uma mente que não morre mesmo estando doente.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Filosofia Kraner


Estava eu a decifrar quantos anos tenho para viver: sem conclusão dessa regra de três, acabei pausando para ler algo do simbolismo.

Me escondi na árvore do meio que fica num bosque qualquer e que fala com a minha criança.

Atravessei com meu abraço esta matéria de cascas, da minha energética sintomática.

O sentido de viver e de se morrer um pouco todos os dias, dá ânimo para decifrar o absurdo ou infinito.

In ou Out, tanto faz, o mundo está morto.


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

soco no estômago


Olhos caninos, de lobo ou cão fugido, talvez.

Parte do meu destino?

Ou mais um personagem dos meus romances sem amor?
Mais uma língua decifrando meu medo?
Mais um corpo que abriga o meu sob luzes acesas.

domingo, 5 de setembro de 2010

frágil

Encosta de novo sua cabeça no meu ombro, prometo falar baixinho, deixar você mole, sussurrando canções, volta e sorri, que é a melhor vista que eu tive daqui. Meu melhor verso e a mais curta e dolorosa saudade desse lado da cidade.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

e que seja cinza.




Ela não era boneca, brinquedo, nada lúdico manipulável.
Ela não chorava entre os dentes, ou grunhia com os olhos.
Ela não brincava com o fogo, ela não sabia brincar. Fogo era seu semblante entre os galhos frios do seu tempo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010


Sorriso: arma quente, como diria Belchior,
gosto dos traços do rosto e a voz me deixa mole,
ele escolhe os cd’s as cores,
ele escolhe não...
(Sutil dá o tom da minha noite)

Gosto do passeio que faz em mim,
o lúdico é de bom gosto,
e ele tem gosto de primavera, das primeiras flores
(suave primavera antecipada que seus lábios me permitem inventar)

Dormiu do meu lado da cama,
sorrimos um pro outro ao acordar,
deixou um sorriso embaixo do travesseiro
voltou,
deixou mais um na sala
(o mais bonito dormiu no meu pescoço).

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

a quarta parede







Sou um pequeno cordeiro que observa.



Como a vida segue em círculos e que nada pode durar mais que uma frase entusiástica.



Eu sou um pequeno cordeiro que se sentiu atraído pela intocada condição humana. No conforto do sonho imediato.



Que eu seja abençoado por esperar perto de uma luz verde, numa estação escura na Lapa, me escondendo de capangas á serviço da justiça.



Tenhas bondade de uma pobre alma que já não sente o trago e que almeja ainda acertar o alvo, daqui, sem levantar suspeita!



O meu dia está salvo quando toco a carteira e disparo incessante, até derrubar a caça e ver o jorro brotar no chão.



Não me viram, mas, sempre vêem.



sábado, 14 de agosto de 2010

these days


E eu acho que falei demais a semana toda, acho que não quero mais essa necessidade de falar.
Não quero existir pra ter que falar.

Foi mais um daqueles tempos negros em que eu nunca sei se me enganei, se quis me enganar, se estava fingindo, se valho ou se não quero valer.

O frio tem seu cheiro.
Abracei o travesseiro e chorei bem menos do que eu precisava.
Chorei por você não ser mais quem você era, chorei por não ter mais porque amar-te, te odeio por ter tornado tudo assim.
Chorei, porque eu não tenho mais razões pra te amar, nem te conheço.

Aconteceram coisas horríveis e é tudo porque você não é mais você.


Queria chorar mais.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

eu quero é botar meu bloco na noite sem amanhã.




Eu queria, antes de querer tudo que eu penso querer agora (e nem tão bem entendo); aquilo de "bom" que você me trouxe ou jogou em cima da minha cama limpa(eu, honestamente, não sei, não me recordo). Eu almejei uma série de outras coisas bem menos egoístas do que as que me degradaram no seu mundo insuportável... Estar ali, tão somente por mero amor; amor que hoje eu sei que é doença que dá uma vez só e passa: depois a missão torna-se neura de caçar aquela merda toda que te tirou de você mesmo e que é só merda mesmo.
Ninguém mais quer comer ninguém que vive com as unhas sujas da merda esquecida e pior... perseguida neuroticamente.


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”Caba logo mundão” hahahahahahaha

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

tea

- Me chamo Vena. Posso ajudá-lo?
- É! (sorri) Sobre ontem, nos flertamos e algo de constrangedor ocorreu!
- Ah, tá! Agora sei quem é o senhor! O vizinho.
- É, não vou mais lhe incomodar. Só vim até aqui para lhe dizer isso.
- Não, não há problema nisso, tenho péssima memória! Eu causei tantos problemas assim para que o senhor viesse me procurar?
- Por favor, senhor não! Leo, moro em frente.
- Senão se incomodar estou terminando uma edição. Podemos nos falar depois?
- Claro! Eu sempre chego ás nove. Tchau.

divisor comum

imagem: Sofia Borges- sem título
Leo deveria ser chamado de idiota. Por que ele quis tocar a campainha da casa de Vena para lhe falar algo estúpido, do tipo: - Perdão! Eu não queria ter feito o que fiz!
Se já o fez, então perfeitamente estúpido é, com todos os seus desajustes emocionais que lhe atormentam desde quando descobrira as relações humanas.
Ele vai procurá-la, vai bater em sua porta para dizer que pede uma chance de ficar mais próximo e que ela tem de se comportar como uma ingênua, que só sabe provocar sexualmente os pudores masculinos.
Então a porta se abre, Vena não fez uma cara de surpresa boa, fez cara de que estava ocupada com outras coisas e que as interrompeu para atender ao idiota.
- Desculpe-me por ontem!
- Sobre o quê o senhor está falando?

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

fata morgana


Diversas vezes praticou o vouyerismo. Ficava á espreita aguardando o espectro de Vena surgir na janela da sala, ampla com porta pivotante que garantia 360º graus de excitação.

Logo mais se culpava, ia ler seus manuais de abuso de propriedade. Nesta Lei, reconfortava-se com ninharias, afinal, ele é quem define as regras e pune os que não agem de acordo com a legislação.

Não sabia o nome de Vena, não sabia nada sobre a garota.

Vena é realmente bem esquisita. Pratica hábitos muito diferentes da vizinhança. Não deixa de ser atraente, mas, tem algo de vamp nela que não estamos acostumados.

Leo sentia um prazer estranho. Não lhe interessava tocar naqueles seios, deslizar as mãos por aquelas costas, morder a nuca.

Uma manhã característica. Num clima frio, passando para a primavera. Depois do café, Leo sai da casa para varrer as folhas que caem sempre das copas e recolhe o jornal.

Depara-se com uma imagem única: Vena leva o lixo e distraidamente uma alça de seu robe cai, mostrando um seio com uma pinta rumando ao colo.

Ele permanece paralisado quando Vena percebe a observação, fitando-o despreocupada e tão lentamente recobre seu ombro.

A garota acomoda o lixo e entra sem emitir qualquer som. Leo reflete por um instante acreditando que não deveria ter feito aquilo.



domingo, 18 de julho de 2010

saudade no peito dos outros não mata.

“Porra Henrique! Eu não estava mentindo quando te entreguei tudo que eu tinha, você sabe que você é o único dentro dessa caixa idiota chamada coração...” - disse em pensamento Ana antes de sair dali do corredor sem tapetes da loucura dele.
Não era muito simples respirar naqueles dias, sem saber se ele sentiria o mesmo, se colocaria outra em seu lugar.
Sexo só piora tudo, principalmente porque é a memória da pele a que conduz os inconseqüentes.
Temia tanto que nunca mais voltasse a estar contente, que fosse eterno esse lamento, essa falta e essa certeza de que não valia a pena boa parte das vontades. Queria ter vontades saudáveis como todo mundo, queria ser mais calma como todo mundo e se sentir um pouco mais correta.
Henrique não a amava mais, há algum tempo, mas fazia dela sua refém, porque ele sabia que ela o amaria pra sempre, que fundara nela mais que um corpo ardente, e sim um santuário de tudo que ele destruíra com as próprias mãos.
Para Ana, parecia que havia caído num imenso abismo em que não conseguia mais superar nada e tudo que já havia passado voltava a lhe atormentar.
Um túnel dos ensejos mais sujos e prazerosos... Agora sozinha, esperando ele voltar.
Bethânia gritando na vitrola: “De que lábios beberás um novo romance? Em que lábio meu beijo foi esquecido? Hás de voltar, hás de voltar!”.

terça-feira, 13 de julho de 2010

sexta-feira, 25 de junho de 2010

floresta negra


Com quantos cogumelos se faz uma Alice?, se ela estiver perdida, diga-lhe para tomar cinco xícaras de chá desses adoráveis seres redondos que nos levam aos sonhos de um terreno distante.

Caso o efeito seja devastador, deixe seu corpo na linha férrea para que a morte seja súbita.

Não permitam que fale com seus pais.

terça-feira, 22 de junho de 2010

~




"Extinguir-se por algum tempo, mas ter certeza de que a gente volta a ser chama".

Elias Canetti in Sobre a Morte (Est. Liberdade, 2009)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

PESARES

Ao homem sem pontos nem vírgulas
que despiu a imagem divina e nos revelou que a arbitrariedade reside em nós humanos
José Saramago, foi-se mas nem tanto.

terça-feira, 15 de junho de 2010

ao vivo é muito pior.

Hoje amanheci como um poema morto.Sem sono como um velho sem pernas tentando entrar em casa.
Desgraças e alguns elogios soam falsos como quem diz que viu fantasma.
Seria essa mesmo a sorte das meninas sem pai?
Estariam jogadas ao bel prazer dos homens sujos?
Minha mãe tem um laudo de morte que aponta meu nome como causa. Eu nunca soube bem como usar o amor que me adoece por ela.
Eu tenho medo de não enlouquecer, de não poder clamar por inocência com a loucura a meu favor...
Eu tenho mais medo ainda de viver muito, da certeza da morte jovem e ainda bela me abandonar!

Quanto ao possuído, não quero saber qual imagem ficou de mim no final do desvario, na curva tresloucada do seu ódio.
Se eu não o tivesse amado, o teria matado, último episódio com morte, clareando minha honra, me salvando com sangue derramado, pra ressurgir meus ânimos, pra reescrever minha história.
Mas eu não mato nem baratas.
Se eu fosse mesmo um demônio o possuiria mais que sua estupidez e cólera estúpida.
Mas eu sou o barbante condutor de luz arrancado por dentes atrozes.

terça-feira, 8 de junho de 2010

III

EU

QUERO



ENTENDER POR QUE GOSTO



DE VOCÊ.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

II

Flagelo onde o amor resiste

Nas costurinhas desse pensamento simplório, de mágoa e prazer, sinto que colho a mais bela flor, que não contém o espinho.
A resistência é uma idéia fixa, que te deseja, mas, logo me regurgita.
Uma brincadeira de infância, sem final feliz, de qualquer modo se é criança por que não sabemos expressar senão através de palavras “sérias” os nossos sentimentos.
Sempre tudo muito cauteloso, aliás, não se pode deixar rastros, o amor é irracional, não se esqueça!
Mas ele é mais forte que a razão e tenho que me enganar, é a paisagem perdida que encontro dentro do meu coração.
Um caminho perigoso que tento descortinar, a dura observação de se ter um amante imaginado, que não transcorre em linha reta é tão logo um estorvo, que dilacera as esperanças pequenas.
Na minha leitura todos vencem pelo amor, mas, todos morrem por ele também. Todos fingem não amar, mas adoentam-se por ele.
Vêem-se coisas que não existem, deturpam a realidade. Transformam as amálgamas e pestanejam sobre as virtudes mundanas.
O amor poderia ser maior que todos os obstáculos, de todas as crueldades que a sombra do mito traz e entre tudo, deveria ser a maior prova sepulcral de toda a condição humana que não está viva ou se encontra inerte.

Parte II

domingo, 6 de junho de 2010

Epopéias dominicais (vomitando compulsivamente)


Eu não sei quando foi que eu perdi aquele encanto por gente.
Peguei-me lembrando dos tempos de poesia pelas ruas daquela cidade, na mão de um hippie que realmente partiu.
Essa nostalgia me tira a fome e impede meu raso futuro.

*

Tinha também aquela vontade de nunca mais receber correspondências de pessoas medíocres.
De nunca mais deitar nua no seu tabuleiro, pra depois ser mais uma peça que você descarta.
Uma vontade de ver sua casa em chamas na primeira página de um jornal e ainda limpar minha bunda com ele.

*

Pregou alguns tecidos na camiseta pra esconder a marca dos tiros.
“Dia desses a vida me levará estrada afora e a minha nudez não será crime”.
Mais um inverno comendo ratos, colhendo vísceras e te vendo morrer.
O destino nos deixou largados sem inferno e sem deus, porque eu não preciso de deus, quando vejo você que diz amar a deus eu desconfio do propósito do que seja amar.
Vermes não amam, mas encostam na mão de deus.
Seu deus e você me doem no estômago, não me desce sequer o almoço, transformam um domingo de sol em bestialidade.

quarta-feira, 2 de junho de 2010


Si bemol

O ensaio da loucura em vias privadas

Foi dedicado para todos os que possuem espírito livre, amantes do fogo.

Podem ou devem denominar-me de enlouquecida quando não restam fugas senão a minha própria sobriedade que, esconde um provável desequilíbrio.
Um exercício que me traz agonia e por que não desespero, quando vem os pensamentos, todos misturados dançam uma valsa de horrores.
Acordar é perceber o longo dia, coisas a serem feitas, horas intermináveis de angústia.
Ainda me falam sobre um paraíso, que resvala em nossas mãos de vez em quando, não nas minhas!
Tilda adormece na cadeira. Esperou-me parar com essas escritas. Gosta de ouvir minhas estórias. Muito silenciosa, me preocupo quando não ouço os outros.
Seja ela o motivo da minha maneira como seguir, vivo por ela então, com uma devoção louca que pratico quando quero ser boa.
Uma criança de dez anos nada sabe sobre o mundo, os papéis que representamos nossa hipocrisia adulta que se intitula soberania.
Nossos compromissos com o sério e absurdo.
Ficaria horas batendo as teclas dessa máquina velha que ainda me é fiel, que escuta o que o coração pede e transforma em palavras. Só consigo ser justa com ela, ninguém mais, nem com meu próprio inconsciente.
É como um desabafo para não temer a loucura. Sim, tenho medo de virar um trapo louco, arrastando-me pelas vias sem que ninguém estenda sua generosidade.
Somente Tilda pode me dar essa força que vos falo que alimenta o espírito com a franqueza de uma garotinha aparentemente frágil e mui bela.
Nosso desafio é manter a chama acesa do fogo.


Parte I

terça-feira, 25 de maio de 2010

sleeping pills (I need)


Tem dias que a gente acorda meio morto. Com gosto de sangue apodrecido na boca... Sangue que me tiraram, sangue que eu dei e que me cuspiram de volta. Sangue tinto seco e minhas miragens lunáticas.
Os olhos denunciam algumas lágrimas tolas... Num desespero que eu nunca me atrevo a demonstrar.

sábado, 15 de maio de 2010

Eu e meu limite curto.
Eu e a minha falta de capacidade de passar por cima e dar a volta.
Eu que não consigo encarar com bondade.
Eu que não sei esquecer e que tenho fugas falhas.
Eu que já não sei pra onde vai a vida e onde ficou a morte.
Eu e tudo aquilo que temo num quarto sem janelas.
Se pudesse cortaria a linha da vida da palma da mão.
Não valeu, não vale, é só pena.

Quando Phil Collins foi visto morto em Oaklahoma

Não durou mais que cinco minutos.
O carro declinava barranco abaixo, saltando sobre os veados e os arremessando contra as árvores.
O que resta é a comunicação das fotos.
Ela está em Israel, noticiando uma guerra privada.
O café é o cheiro do seu silêncio.
As ligações foram grampeadas.

terça-feira, 11 de maio de 2010

segunda-feira, 10 de maio de 2010

trincheira

Quando há sobras, não há fatias .
Quando a circunstância lhe empurra é por que algo de bom vai acontecer ou algo de ruim inevitavelmente deixará de acontecer.
Por essa porta passaremos todos, sem aviso de bater antes de entrar.
Algumas coisas nos enlouquecem e nos permitem gritar, por que todo limite é desenterrado, tudo é desenterrado.
A pressão vem, o desespero vem e a fome vai embora. O sono vai embora. A paz desaparece.
Isso tudo é um caminho pelo qual tem de se caminhar, até que os monstros desapareçam e nasçam as estrelas.
É preciso subir as montanhas, é preciso cortar a madeira e fazer o fogo.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

mardi


hoje eu fiz uma pequena caridade

fiz sorrir pessoas que não têem coração

que gostam de mastigar o sentimento alheio


que fazem bolha de sabão com os nossos sonhos

que incendeiam aldeias inteiras

mordiscam as arestas do paraíso


fazem surgir o fogo e a tempestade na selva

há sons de fúria

de rompimento


não acontece isso sempre

na verdade só há um instante

e você tem que fazer tudo nesse instante.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

_|_


Eu pensei em jogar uma pedra na sua janela pra você saber que é por ti que eu ainda puxo a fumaça do cigarro com tanta veemência e amargura descendo a rua.Mas eu preciso parar de fumar um dia e não mais escrever que me lembro, que mato um leão por semana pra esquecer que não te verei mais e que as letras finais subiram no nosso filme.

domingo, 2 de maio de 2010

o chafariz de Trindad

o encontro acho que foi bom. deixei ela deitada no sofá. na hora de sair foi um pouco perturbador por que eu sabia que não a queria mais, nem ouvi-la, nem cheirá-la.
coisa estranha isso, sentir atração e repulsa.
o que me servia era o bar debaixo, numa praça bem escura, eu via as pessoas e elas não.
já tive problemas com essa invisibilidade, até gozaram da situação acreditando que eu fiz algum tipo de pacto.
...o cara ficou me seguindo, nesse lance eu tive medo, naquele bar, a situação toda era estranha.
um pesadelo depois do sono profundo, eu até queria retornar, mas, já era tarde. ela estava descansando.
pensando no que foi feito?

* * *

acho que ele deve estar arrependido.
me deixou aqui no sofá.
já são cinco da manhã! ainda bem que não preciso acordar cedo.
putz!, ele acabou esquecendo o r.g.
ele é bonitinho. não vou devolver.
acho que ele vai ligar.
será? ah, não importa também! foi melhor assim, senão acaba tendo cobrança.
o bar ainda tá funcionando? barulho do caramba!
desse jeito fica difícil dormir.

* * *

esse maluco deve tá me seguindo! vou ficar mais um pouco aqui.
- uma água com gás e me vê também um maço de cigarros.
ela é muito enrolada, louca. (acende o cigarro)

* * *

(toma um banho)
estou me sentindo numa vitrine. completamente exposta.


* * *

(polícia chega ao bar)



terça-feira, 27 de abril de 2010

e um desabafo

A burguesia fedeA burguesia quer ficar ricaEnquanto houver burguesiaNão vai haver poesia
A burguesia não tem charme nem é discretaCom suas perucas de cabelos de bonecaA burguesia quer ser sócia do CountryA burguesia quer ir a New York fazer compras
Pobre de mim que vim do seio da burguesiaSou rico mas não sou mesquinhoEu também cheiro malEu também cheiro mal
A burguesia tá acabando com a BarraAfunda barcos cheios de criançasE dormem tranqüilosE dormem tranqüilos
Os guardanapos estão sempre limposAs empregadas, uniformizadasSão caboclos querendo ser inglesesSão caboclos querendo ser ingleses
A burguesia fedeA burguesia quer ficar ricaEnquanto houver burguesiaNão vai haver poesia
A burguesia não repara na dorDa vendedora de chicletesA burguesia só olha pra siA burguesia só olha pra siA burguesia é a direita, é a guerra
A burguesia fedeA burguesia quer ficar ricaEnquanto houver burguesiaNão vai haver poesia
As pessoas vão ver que estão sendo roubadasVai haver uma revoluçãoAo contrário da de 64O Brasil é medrosoVamos pegar o dinheiro roubado da burguesiaVamos pra ruaVamos pra ruaVamos pra ruaVamos pra ruaPra rua, pra rua
Vamos acabar com a burguesiaVamos dinamitar a burguesiaVamos pôr a burguesia na cadeiaNuma fazenda de trabalhos forçadosEu sou burguês, mas eu sou artistaEstou do lado do povo, do povo
A burguesia fede – fede, fede, fedeA burguesia quer ficar ricaEnquanto houver burguesiaNão vai haver poesia
Porcos num chiqueiroSão mais dignos que um burguêsMas também existe o bom burguêsQue vive do seu trabalho honestamenteMas este quer construir um paísE não abandoná-lo com uma pasta de dólaresO bom burguês é como o operárioÉ o médico que cobra menos pra quem não temE se interessa por seu povoEm seres humanos vivendo como bichosTentando te enforcar na janela do carroNo sinal, no sinalNo sinal, no sinal
A burguesia fedeA burguesia quer ficar ricaEnquanto houver burguesiaNão vai haver poesia
(Ouvir pra pensar? Mas quem de nós saberá ouvir?)

Oníricos - Helena Schopenhauer Borges



1.
Preparei o leitoDeito-me pronta para a operação O nó está pronto para sairMaduro, quase dá frutosa raiz é curtacomo a mandrágoraum monstro vegetal que espera ser paridoe virar as costas para tudo o que se foi.
A seiva verde cairá pelo chãoÁcida com seu gosto simples de limãoMinhas mãos prontas Não terão força de segurar a criança.
A criança é de uma amiga que vinha me visitar quando era meninaAgora estamos as duas presas nesta casa de loucosEla que é louca e eu que sou só uma pobre ressuscitada esperando que Deus se apiede do meu cansaçoMas Deus, tem dias que é ruim, como um diabo e nem olha que eu existaPros loucos ele nunca olhouA mimDevia olhar porque tenho a minha flor desabrochando no peito e se a operação não der certoEu morro.E Deus precisa ver o rosto de quem entra no céu.


2.
Preparei o leitoOnde vou me deitar esperando os médicosO bisturi sujo de outros sanguesSei que abrirão o meu peito Sem precisar cortar o ossoVirá o animal-vegetal que mora escondidoE que dói no fundoNão o fundo do estômago, nem o coração, pulmões, Esses órgãos exilados do restoO que dói é o fundoO que não se pode tocar


3.
Preparei o leitoArrastei a cadeira pra pertoAs pessoas da família sempre fogem nestas horasÉ que mortos tem pouca resistência para a dorEu não,Porque eu sou a ressuscitadaE mantenho a calma nas horas tristes e alegresOntem me visitou o Gabriel com sua espada e um grupo de companheiros com tochas acessas para iluminar o caminhoPerguntei-lhe se estava cansadoEle me disse que não trazia respostas, mas uma pergunta únicaEu disse que não tinha mais ouvidosEle me avisou que estava tudo perto Mas que eu precisava responder a perguntaEu avisei Não tenho ouvidos, meu arcanjo,Ele retrucou que era preciso ouvirEu mostrei-lhe o lugar das orelhas que estava vazioEle me pediu que baixasse a cabeça os homens puderam as labaredas nas minhas têmporas e eu sai escutando.A operação começará cedo.

4.
O carbúnculo é grande e verde, todo verde, vermelho e amarelado como uma romã apodrecendo.Mostro a Gabriel ele me diz que a cor é boa.


5.
Chega o médico vestido de preto.Eu me assustoMeu coração disparaNunca vi quem não se vestisse de branco.Ele me avisa por trás dos óculos que não devo ter medo, Nem toda operação tem a mesma cor.Me aplica uma injeção e eu sinto um pó corroer minha língua.Os outros ao redor consentem como se julgassem.Eu durmo, mas ouço tudo, assim como o movimento de extração.Nasce de mim uma menina gordinha, em suas costas está colado o carbúnculoOs médicos levam-na embora envolta em uma toalha branca.Não vi o seu rosto.



6.
Deixam a outra que é puro carbúnculo, o carbúnculo verde, meio carne, meio vegetal dentro da pia. Uma moça que não estava ali vem dizer-me que devo regá-lo duas vezes por dia. As flores serão coloridasSerá mau se a cor for branca, bom se forem negrasEla abre a janela e salta.Um pássaro passa longe e pia estranhamente.


7.
A velha francesa e gorda vem me trazer a roupa de princesaPensa que falo sua línguaTranca-me no quarto vazioDescobre que sou de mentiraDá-me uma roupa de velhaA roupa é largaA cor de pele rosadaPelas janelas abertas vejo pessoas nuas passandoEu estou nua, mas vestida pela casa.Do lado de fora, um homem gordo com um sexo de elefante contempla a paisagemEu sei que os nus virão e eu estarei nua para sempre.

8.
Os homens correm atrás de mimEu despenco por todos os lados do casteloNo caminho da queda há um homem tocando seu violãoFuma o moço, e é bonitoEu me viro para as fotos e caio no fundoO abismo acabará um dia?Explico à minha mãe que eu precisava me jogar.

9.
Quando acordoVejo o céu quadradoAs portas avançam até onde estouEu que sei que portas não se movemÉ só ver o que não existeVomito todos os diasO vômito da noite é mais seco que o que vem pela manhãMeus dentes são amarelos de tanto ácidoAs portas não param de avançar por issoEu corroPara chorar longe a morte do meu filho de dezesseis anos que eu não conheciPor que tinham que matar o garoto?Nem lhe deram chance de se defenderEu e todos os meus assassinosOs que guardam o segredo porque são túmulosOs que contam os segredos porque tem pena de si mesmosEssa gente ainda vai acabar comigoOs que vêm com as palavras adocicadas cheias de formigasE falam, falam sem parar.As portas não param de se moverEu grito como as sereias surdasMeu pai acorda-me todas as manhãs em que me lembro deleJá não é capaz de virar a ampulheta do seu quarto escuroEu aperto as mãos procurando calorÉ frio no pampa Não há água que nos refaça a vida no corpoSó o frio há de nos calar

do outro lado do espelho


Dizem que aprendemos muito com contos infantis. Não sei se isso é uma metáfora de aprisionamento do espírito jovem, onde concebe a imortalidade dos pensamentos.
Na prática, a realidade nos regurgita o tempo todo para admirar sua bela expressão no espelho, centrado em nós mesmos.
Viver na pele de qualquer personagem desses, seria uma heresia ou mesmo uma loucura temporária diagnosticada como eterna.
Parece fácil viver, não? Acreditei nisso minha vida toda.
Logo fui desmotivado pelos entraves e burocracias cotidianas, perdendo o interesse em progredir nos benditos degraus da esperança.
Todas as estórias buscam o arquétipo do final feliz. Não sei se estou a fim de ir para o céu, acho que meu lugar é no inferno com vários revoltados contra o sistema divisório ou com os anarquistas que se rebelaram contra essa ordem e hipocrisia.
O caminho até o inferno deve dar trabalho, pode ser uma passagem para algum lugar feliz.
Deve conter também alguma mensagem subliminar ou diálogos em grego, supra da cultura teatral em séculos áureos.

* * *




A minha rotina é a mesma, observe: todos os dias de manhã, acordo e tomo o café, não necessariamente nessa ordem e tampouco na ordem de ir ao trabalho para matar o tempo em oito horas diárias.
Jogado do trólebus, corto a calçada preta e branca de um panorama rasteiro. O rosto incrustado no cimento art decó vai revelando o tema daquele gigante no meio de um pátio que já foi igreja e agora é colégio.
Estreitas ruas tornam-se labirintos, o frescor da urina dos moradores de rua, ensacados e com fortalezas de talismãs que fecham seus corpos.
É sempre o mesmo caminho, o mesmo bar chinês com suas baratinhas mortas do lado de fora e as mesmas feições ébrias dos seres ensacados.
Um buraco. Um buraco muda muita coisa. Ele é a síntese da passagem desse lado de cá tão chato para o fantástico. Foi assim para Alice, será para mim neste dia.

* * *

As horas vagas parecem com o presságio da morte. Nos ponteiros desfilam a minha inquietude de curiosidade que da cartola não sairá qualquer feitiço que me torne realmente satisfeito.
Se em cada minuto os segundos roubam o tempo suficiente de minha vida, não há tempo para serem realizadas todas as coisas que nos flashes da memória acabam desaparecendo.
Era o desenho no muro daquela escolinha, era o menino que pulava a corda, os intervalos longos que escondia a drasticidade da loucura e a “irmã” que chamava a atenção para cantar o hino corretamente.
Muitas coisas foram bloqueadas instantaneamente. O serviço de resgate pode demorar ou mesmo nem vir.
Enquanto isso, podemos tomar um chá.



domingo, 25 de abril de 2010

um homem otto para mim, por favor rs


Se eu pudesse criar um homem, ele seria alto, de ombros largos, pele morena do sol, de melenas castanhas.
Esse homem não falaria de amor, não me exigiria nada, apenas compaixão.
Um homem que te desse uma surra na porta da sua casa e que te violasse o anus com doçura e mágoa.
Um homem com asas e antenas... Um homem pra te violentar e me alimentar de medo quando eu me sentir vazia, quando eu abrir as pernas pra saudade...
Um homem que não discernisse literatura da vida... Um homem que não soubesse o que é a vida, que tivesse alguma coisa mais bela pra me mostrar...

No lugar do coração esse homem teria uma andorinha viva.
Nos bolsos da calça apenas flores ou ramos de arruda.

Um homem que me comesse com os olhos e lambesse as costas.

jaqueta


Meu pai poderia se orgulhar se ele se lembrar disso.

Ah!Não quero ficar tocando no passado, essa maldita avenida não deixa eu cair no sono.

Tem muitos dias que desconheço o gozo do Sandman, de ficar me perturbando com as comparações entre a terra e o inferno.

A lição de moral mais absurda é que quando encostaram um calibre na minha cabeça, falaram se eu não tinha medo de morrer! Eu não tinha, hoje tenho aflição de dormir e fico pensando se eu morrer como as coisas ficarão?

Não vai ser como o Stevie Wonder, não será tão branco e sonoro, deverá ter chamas saltadas das notas e as noites sempre ficam sozinhas.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

mil demonios no corpo....

...ou uma gata listrada perdida no cemitério.
vou te avisando das próximas cenas, porém, já quero ir ao hotel.

bj

sábado, 17 de abril de 2010

certa manhã acordei de sonhos intranquilos

Como se isso bastasse pra afastar os brocardos malignos, essa percepção de cobardia; eu havia pedido que não piorasse meus dias nessa cidade.
Tão poucas vezes pareceu querer fazer o bem, e quase sempre me culpou por seus vícios e quis me inquietar com virtudes que não tinha.
A verdade é que eu não posso mais com nada disso.
Leve tudo de você de mim.
Deixa virar historieta de mesa de bar pra contarmos em outra década, bebendo vinho ou em outro estado, vou largar essa vida aqui e inventar outra.
Eu pedi pra não atirar, eu não sei mais esquivar.


E a Alejandra Pizarnik escreveu um dia:

"na outra margem da noite
o amor é possível

leva-me

leva-me entre as doces substâncias
que morrem a cada dia em tua memória"




... Silêncio. O amor é impossível.

terça-feira, 6 de abril de 2010

as janelas do paraíso

imagem: Henri Rousseau


estamos em ebulição, o que importa é liquidificar todos esses pensamentos.


acordo um sujeito feliz e depois com o passar das horas descubro que pareço ingênuo.


acreditar no amor?


posso fazer tantas coisas além disso!


posso continuar a escrever o meu conto, apertar um pouco mais a gravata ou sair andando.


você me disse um dia que poderíamos viajar para Allambra ou padecer nas montanhas, onde o vento arranca todas as mágoas.


não encontro mais aquele seu caderno, onde tinha as tais poesias proibidas.


você não me conta mais nada do seu dia, acho isso irrelevante.


acho que estou sofrendo por causa dos seus pensamentos.


estou vivendo sob a febre do amor.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

AMANDA

PRECISO DO MATERIAL! ESTOU ESPERANDO VOCÊ MANDAR.
ISSO É SÉRIO E TEM PRAZO

quinta-feira, 1 de abril de 2010

la chinoise


o teu vestido esconde o mundo vermelho que Mao não mostrou.

me levando a conclusão de que você não existe, que pode ser apenas fruto de uma relação ordinária entre o meu coração e minha mente.

enquanto as pessoas sérias discutiam a abertura econômica e o desarmamento nuclear, meus ouvidos estavam voltados para a sua respiração.

o mundo estava desabando do lado de fora , nas matas onde estavam os professores que queimavam a carne do adultério estatal, também consumiam a liberdade monstrinhos travestidos de gente.

deixei de ser status quo, agora estou na marginalidade possível, fazendo parte de um grupo seleto de pessoas importantes.

você abandonou a idéia principal para participar de um reallity show, esqueceu que tínhamos uma bandeira a defender e que por causa dessa sujeira toda, ela naufragou na boca de lobo.

existe ainda o campo fluorescente.




terça-feira, 30 de março de 2010

*


"Um homem jamais pode entender o tipo de solidão que uma mulher experimenta. Um homem se deita sobre o útero da mulher apenas para se fortalecer, ele se nutre desta fusão, se ergue e vai ao mundo, a seu trabalho, a sua batalha, sua arte. Ele não é solitário. Ele é ocupado. A memória de nadar no líquido aminótico lhe dá energia, completude. A mulher pode ser ocupada também, mas ela se sente vazia. Sensualidade para ela não é apenas uma onda de prazer em que ela se banhou, uma carga elétrica de prazer no contato com outra. Quando o homem se deita sobre o útero dela, ela é preenchida, cada ato de amor, ter o homem dentro dela, um ato de nascer e renascer, carregar uma criança e carregar um homem. Toda vez que o homem deita em seu útero se renova no desejo de agir, de ser. Mas para uma mulher, o climax não é o nascimento, mas o momento em que o homem descansa dentro dela."
(Anaïs Nin)

domingo, 28 de março de 2010

faz calor, depois faz frio...

Bem de longe sou aquela que conheceu e moldou.
Falhas nunca serão reconhecidas, tampouco reparadas.

A merda do mundo está na repetição que é o ser humano. Todo polido, hipócrita, insaciável e cretino.

Está nas soluções grotescas... No mal que só as pessoas que nos amam podem causar...

Outrora a vida era mais bonita, nas ruas a lua dizia “boa noite” aos que mereciam.

(Cada sonho perdido em que surges, e sangras e me despes a face e as vestes... Tudo aleivosia e quimera...).

Eu poderia estar em qualquer cama, em qualquer abraço, mas eu prefiro estar é com a cabeça no lugar e não me enganar mais.

Nada que valha nesse mundo pro meu passeio... E agora?


sábado, 27 de março de 2010

melhor ser homem...


...ou não ter sexo.

A negação de ser uma figura feminina é uma interpretação livre que me dissolve da culpa, das dores e da liberdade que todos resolveram mutilar de nós.

Não sou infeliz com o sexo que tenho, mas, poderia ter mais músculos. A voz pode ser feminina, é mais suave.

Não sei bem o que quero.

Tenho de ter força para não desesperar-me nesse mundo de aquário, ser leal á uma situação que não está me levando á nada, somente cansaço.

Ser um cara e usar um terno seco, talvez uma gravata enxuta bem fininha, indispensável para se construir um personagem e iniciar o show, mas, isso não pode ser show quando envolve vítimas sôfregas de falta de ter o que fazer.




quarta-feira, 24 de março de 2010

haja o que houver...


E de todo passado fica um soluço de choro de criança,
de todas as nossas noites: uma saudade do diabo,
mas eu danço em outra pista,
qualquer canção que tocar...

Saudade se dissipa é com vodca,
dia bom é pra cantar e soltar as melenas,
passam-se anos e eu não me redimo com o tempo!

sexta-feira, 19 de março de 2010

devir.

Raimundo não conseguia dormir pensando nas contas e na broxada que deu com aquela gostosa do mercadinho.
Ela com certeza vai contar pro bairro todo o seu desastre sexual.
Isso que dá sair com ninfomaníacas entediadas... As mulheres são cruéis quando não gozam...
Estava fodido e aquela garrafa de vodca está vazia. Sua mãe acabara com ela engolindo seu valium 10mg.
A decadência e o desemprego começaram a ditar as regras do jogo de sua vida, que mais parecia um cassino de última categoria.
Bom, lamentar-se nunca resolveu nada.
Viu o dia nascer e pensara até em prostituição, mas como se ele era broxa?
Com Denise ele se realizava, ela adorava quando a fodia pelo cu, gritando seu nome em desatino... Agora já não se viam e a melancolia começava a incomodar...
O amor é uma puta traiçoeira que se finge de morta!
Confundira tudo e não queria mais reclamar...
A mãe estava dormindo na sala e nunca soube como se comunicar com tal ser exótico e trágico.
Os dias de fato não o deixavam sentir-se confortável, nem mesmo conseguia adormecer... Tem medo da própria sombra e de tudo que lembre a realidade das coisas mundanas.
Não sabia pra onde estava indo sua vida e por tal razão tentava prolongar a euforia (único abrigo que encontrou dentro de si e desse esperma de mundo).
Mais uma folha no calendário amarelo do ano passado... É de novo onze de março e ele não queria que amanhecesse vivo o dia, mas amanheceu.

lamento II

Nunca mais ela chorou nos braços dele, nunca mais tomou calmantes...
Se julga calma e livre pra viver o que vier... E tudo que vem é pouco pra ela, tem hábitos frios e passa a maior parte do tempo sozinha com seus escritos e seu silêncio.
Nunca mais ela chorou por ele, embora não haja um dia sequer que seu corpo não reclame sua condição e confesse que é sim, por ele, que chora até amanhecer...
E no fim de tudo ela pôde notar que o amor que sentiu era ainda maior do que imaginou e que ele vai sempre dever-lhe algo.
Como uma promessa nunca cumprida; como uma vida inteira sem assumir suas falhas, como ser pulha o bastante para dizer que ela nunca o amou.
Em verdade, ela nunca acreditou que atingiriam o “nunca mais” e mesmo com toda essa distância, com o peso dos vinte e um dias, ainda é difícil de crer que se separaram.
Difícil porque um grande amor mesmo depois de morto é um espírito insistente; um fantasma daqueles que enganam, confundem-se com a vida, ou com o que ficou dela.
Ele nunca vai acreditar que ela sente sua falta (mas ela sente). Ela nunca vai deixar essa falta ser o estopim da sua passionalidade.
E não é que ele mesmo no fim nunca assumiu que não deu o valor que ela merecia.
Ela o amou mais que a si mesma, o amou mais do que à perfeição. Houve um tempo em que ele a levaria a qualquer lugar, faria dela o que quisesse...
Ele tentou matar esse amor!
Usou contra ela o que só confessara a ele... E finge agora que ela nem existiu.

lamento.


Eu ia apagar a luz e deitar... Deixar meu corpo no escuro e entregar a mente pra esse redemoinho sem rumo: desvairado no ar.
Porém, uma balada do Aerosmith me obrigou a escrever, quase chorosa a canção dá o tom desse relato: - com pouca mágoa e muita nostalgia que concluo que sempre fui sua vaidade e que fui vítima da sua violenta neurose sem qualquer amor-.