A burguesia fedeA burguesia quer ficar ricaEnquanto houver burguesiaNão vai haver poesia
A burguesia não tem charme nem é discretaCom suas perucas de cabelos de bonecaA burguesia quer ser sócia do CountryA burguesia quer ir a New York fazer compras
Pobre de mim que vim do seio da burguesiaSou rico mas não sou mesquinhoEu também cheiro malEu também cheiro mal
A burguesia tá acabando com a BarraAfunda barcos cheios de criançasE dormem tranqüilosE dormem tranqüilos
Os guardanapos estão sempre limposAs empregadas, uniformizadasSão caboclos querendo ser inglesesSão caboclos querendo ser ingleses
A burguesia fedeA burguesia quer ficar ricaEnquanto houver burguesiaNão vai haver poesia
A burguesia não repara na dorDa vendedora de chicletesA burguesia só olha pra siA burguesia só olha pra siA burguesia é a direita, é a guerra
A burguesia fedeA burguesia quer ficar ricaEnquanto houver burguesiaNão vai haver poesia
As pessoas vão ver que estão sendo roubadasVai haver uma revoluçãoAo contrário da de 64O Brasil é medrosoVamos pegar o dinheiro roubado da burguesiaVamos pra ruaVamos pra ruaVamos pra ruaVamos pra ruaPra rua, pra rua
Vamos acabar com a burguesiaVamos dinamitar a burguesiaVamos pôr a burguesia na cadeiaNuma fazenda de trabalhos forçadosEu sou burguês, mas eu sou artistaEstou do lado do povo, do povo
A burguesia fede – fede, fede, fedeA burguesia quer ficar ricaEnquanto houver burguesiaNão vai haver poesia
Porcos num chiqueiroSão mais dignos que um burguêsMas também existe o bom burguêsQue vive do seu trabalho honestamenteMas este quer construir um paísE não abandoná-lo com uma pasta de dólaresO bom burguês é como o operárioÉ o médico que cobra menos pra quem não temE se interessa por seu povoEm seres humanos vivendo como bichosTentando te enforcar na janela do carroNo sinal, no sinalNo sinal, no sinal
A burguesia fedeA burguesia quer ficar ricaEnquanto houver burguesiaNão vai haver poesia
(Ouvir pra pensar? Mas quem de nós saberá ouvir?)
terça-feira, 27 de abril de 2010
Oníricos - Helena Schopenhauer Borges
1.
Preparei o leitoDeito-me pronta para a operação O nó está pronto para sairMaduro, quase dá frutosa raiz é curtacomo a mandrágoraum monstro vegetal que espera ser paridoe virar as costas para tudo o que se foi.
A seiva verde cairá pelo chãoÁcida com seu gosto simples de limãoMinhas mãos prontas Não terão força de segurar a criança.
A criança é de uma amiga que vinha me visitar quando era meninaAgora estamos as duas presas nesta casa de loucosEla que é louca e eu que sou só uma pobre ressuscitada esperando que Deus se apiede do meu cansaçoMas Deus, tem dias que é ruim, como um diabo e nem olha que eu existaPros loucos ele nunca olhouA mimDevia olhar porque tenho a minha flor desabrochando no peito e se a operação não der certoEu morro.E Deus precisa ver o rosto de quem entra no céu.
2.
Preparei o leitoOnde vou me deitar esperando os médicosO bisturi sujo de outros sanguesSei que abrirão o meu peito Sem precisar cortar o ossoVirá o animal-vegetal que mora escondidoE que dói no fundoNão o fundo do estômago, nem o coração, pulmões, Esses órgãos exilados do restoO que dói é o fundoO que não se pode tocar
3.
Preparei o leitoArrastei a cadeira pra pertoAs pessoas da família sempre fogem nestas horasÉ que mortos tem pouca resistência para a dorEu não,Porque eu sou a ressuscitadaE mantenho a calma nas horas tristes e alegresOntem me visitou o Gabriel com sua espada e um grupo de companheiros com tochas acessas para iluminar o caminhoPerguntei-lhe se estava cansadoEle me disse que não trazia respostas, mas uma pergunta únicaEu disse que não tinha mais ouvidosEle me avisou que estava tudo perto Mas que eu precisava responder a perguntaEu avisei Não tenho ouvidos, meu arcanjo,Ele retrucou que era preciso ouvirEu mostrei-lhe o lugar das orelhas que estava vazioEle me pediu que baixasse a cabeça os homens puderam as labaredas nas minhas têmporas e eu sai escutando.A operação começará cedo.
4.
O carbúnculo é grande e verde, todo verde, vermelho e amarelado como uma romã apodrecendo.Mostro a Gabriel ele me diz que a cor é boa.
5.
Chega o médico vestido de preto.Eu me assustoMeu coração disparaNunca vi quem não se vestisse de branco.Ele me avisa por trás dos óculos que não devo ter medo, Nem toda operação tem a mesma cor.Me aplica uma injeção e eu sinto um pó corroer minha língua.Os outros ao redor consentem como se julgassem.Eu durmo, mas ouço tudo, assim como o movimento de extração.Nasce de mim uma menina gordinha, em suas costas está colado o carbúnculoOs médicos levam-na embora envolta em uma toalha branca.Não vi o seu rosto.
6.
Deixam a outra que é puro carbúnculo, o carbúnculo verde, meio carne, meio vegetal dentro da pia. Uma moça que não estava ali vem dizer-me que devo regá-lo duas vezes por dia. As flores serão coloridasSerá mau se a cor for branca, bom se forem negrasEla abre a janela e salta.Um pássaro passa longe e pia estranhamente.
7.
A velha francesa e gorda vem me trazer a roupa de princesaPensa que falo sua línguaTranca-me no quarto vazioDescobre que sou de mentiraDá-me uma roupa de velhaA roupa é largaA cor de pele rosadaPelas janelas abertas vejo pessoas nuas passandoEu estou nua, mas vestida pela casa.Do lado de fora, um homem gordo com um sexo de elefante contempla a paisagemEu sei que os nus virão e eu estarei nua para sempre.
8.
Os homens correm atrás de mimEu despenco por todos os lados do casteloNo caminho da queda há um homem tocando seu violãoFuma o moço, e é bonitoEu me viro para as fotos e caio no fundoO abismo acabará um dia?Explico à minha mãe que eu precisava me jogar.
9.
Quando acordoVejo o céu quadradoAs portas avançam até onde estouEu que sei que portas não se movemÉ só ver o que não existeVomito todos os diasO vômito da noite é mais seco que o que vem pela manhãMeus dentes são amarelos de tanto ácidoAs portas não param de avançar por issoEu corroPara chorar longe a morte do meu filho de dezesseis anos que eu não conheciPor que tinham que matar o garoto?Nem lhe deram chance de se defenderEu e todos os meus assassinosOs que guardam o segredo porque são túmulosOs que contam os segredos porque tem pena de si mesmosEssa gente ainda vai acabar comigoOs que vêm com as palavras adocicadas cheias de formigasE falam, falam sem parar.As portas não param de se moverEu grito como as sereias surdasMeu pai acorda-me todas as manhãs em que me lembro deleJá não é capaz de virar a ampulheta do seu quarto escuroEu aperto as mãos procurando calorÉ frio no pampa Não há água que nos refaça a vida no corpoSó o frio há de nos calar
do outro lado do espelho
Dizem que aprendemos muito com contos infantis. Não sei se isso é uma metáfora de aprisionamento do espírito jovem, onde concebe a imortalidade dos pensamentos.
Na prática, a realidade nos regurgita o tempo todo para admirar sua bela expressão no espelho, centrado em nós mesmos.
Viver na pele de qualquer personagem desses, seria uma heresia ou mesmo uma loucura temporária diagnosticada como eterna.
Parece fácil viver, não? Acreditei nisso minha vida toda.
Logo fui desmotivado pelos entraves e burocracias cotidianas, perdendo o interesse em progredir nos benditos degraus da esperança.
Todas as estórias buscam o arquétipo do final feliz. Não sei se estou a fim de ir para o céu, acho que meu lugar é no inferno com vários revoltados contra o sistema divisório ou com os anarquistas que se rebelaram contra essa ordem e hipocrisia.
O caminho até o inferno deve dar trabalho, pode ser uma passagem para algum lugar feliz.
Deve conter também alguma mensagem subliminar ou diálogos em grego, supra da cultura teatral em séculos áureos.
* * *
A minha rotina é a mesma, observe: todos os dias de manhã, acordo e tomo o café, não necessariamente nessa ordem e tampouco na ordem de ir ao trabalho para matar o tempo em oito horas diárias.
Jogado do trólebus, corto a calçada preta e branca de um panorama rasteiro. O rosto incrustado no cimento art decó vai revelando o tema daquele gigante no meio de um pátio que já foi igreja e agora é colégio.
Estreitas ruas tornam-se labirintos, o frescor da urina dos moradores de rua, ensacados e com fortalezas de talismãs que fecham seus corpos.
É sempre o mesmo caminho, o mesmo bar chinês com suas baratinhas mortas do lado de fora e as mesmas feições ébrias dos seres ensacados.
Um buraco. Um buraco muda muita coisa. Ele é a síntese da passagem desse lado de cá tão chato para o fantástico. Foi assim para Alice, será para mim neste dia.
* * *
As horas vagas parecem com o presságio da morte. Nos ponteiros desfilam a minha inquietude de curiosidade que da cartola não sairá qualquer feitiço que me torne realmente satisfeito.
Se em cada minuto os segundos roubam o tempo suficiente de minha vida, não há tempo para serem realizadas todas as coisas que nos flashes da memória acabam desaparecendo.
Era o desenho no muro daquela escolinha, era o menino que pulava a corda, os intervalos longos que escondia a drasticidade da loucura e a “irmã” que chamava a atenção para cantar o hino corretamente.
Muitas coisas foram bloqueadas instantaneamente. O serviço de resgate pode demorar ou mesmo nem vir.
Enquanto isso, podemos tomar um chá.
Na prática, a realidade nos regurgita o tempo todo para admirar sua bela expressão no espelho, centrado em nós mesmos.
Viver na pele de qualquer personagem desses, seria uma heresia ou mesmo uma loucura temporária diagnosticada como eterna.
Parece fácil viver, não? Acreditei nisso minha vida toda.
Logo fui desmotivado pelos entraves e burocracias cotidianas, perdendo o interesse em progredir nos benditos degraus da esperança.
Todas as estórias buscam o arquétipo do final feliz. Não sei se estou a fim de ir para o céu, acho que meu lugar é no inferno com vários revoltados contra o sistema divisório ou com os anarquistas que se rebelaram contra essa ordem e hipocrisia.
O caminho até o inferno deve dar trabalho, pode ser uma passagem para algum lugar feliz.
Deve conter também alguma mensagem subliminar ou diálogos em grego, supra da cultura teatral em séculos áureos.
* * *
A minha rotina é a mesma, observe: todos os dias de manhã, acordo e tomo o café, não necessariamente nessa ordem e tampouco na ordem de ir ao trabalho para matar o tempo em oito horas diárias.
Jogado do trólebus, corto a calçada preta e branca de um panorama rasteiro. O rosto incrustado no cimento art decó vai revelando o tema daquele gigante no meio de um pátio que já foi igreja e agora é colégio.
Estreitas ruas tornam-se labirintos, o frescor da urina dos moradores de rua, ensacados e com fortalezas de talismãs que fecham seus corpos.
É sempre o mesmo caminho, o mesmo bar chinês com suas baratinhas mortas do lado de fora e as mesmas feições ébrias dos seres ensacados.
Um buraco. Um buraco muda muita coisa. Ele é a síntese da passagem desse lado de cá tão chato para o fantástico. Foi assim para Alice, será para mim neste dia.
* * *
As horas vagas parecem com o presságio da morte. Nos ponteiros desfilam a minha inquietude de curiosidade que da cartola não sairá qualquer feitiço que me torne realmente satisfeito.
Se em cada minuto os segundos roubam o tempo suficiente de minha vida, não há tempo para serem realizadas todas as coisas que nos flashes da memória acabam desaparecendo.
Era o desenho no muro daquela escolinha, era o menino que pulava a corda, os intervalos longos que escondia a drasticidade da loucura e a “irmã” que chamava a atenção para cantar o hino corretamente.
Muitas coisas foram bloqueadas instantaneamente. O serviço de resgate pode demorar ou mesmo nem vir.
Enquanto isso, podemos tomar um chá.
domingo, 25 de abril de 2010
um homem otto para mim, por favor rs
Se eu pudesse criar um homem, ele seria alto, de ombros largos, pele morena do sol, de melenas castanhas.
Esse homem não falaria de amor, não me exigiria nada, apenas compaixão.
Um homem que te desse uma surra na porta da sua casa e que te violasse o anus com doçura e mágoa.
Um homem com asas e antenas... Um homem pra te violentar e me alimentar de medo quando eu me sentir vazia, quando eu abrir as pernas pra saudade...
Um homem que não discernisse literatura da vida... Um homem que não soubesse o que é a vida, que tivesse alguma coisa mais bela pra me mostrar...
No lugar do coração esse homem teria uma andorinha viva.
Nos bolsos da calça apenas flores ou ramos de arruda.
Um homem que me comesse com os olhos e lambesse as costas.
Esse homem não falaria de amor, não me exigiria nada, apenas compaixão.
Um homem que te desse uma surra na porta da sua casa e que te violasse o anus com doçura e mágoa.
Um homem com asas e antenas... Um homem pra te violentar e me alimentar de medo quando eu me sentir vazia, quando eu abrir as pernas pra saudade...
Um homem que não discernisse literatura da vida... Um homem que não soubesse o que é a vida, que tivesse alguma coisa mais bela pra me mostrar...
No lugar do coração esse homem teria uma andorinha viva.
Nos bolsos da calça apenas flores ou ramos de arruda.
Um homem que me comesse com os olhos e lambesse as costas.
jaqueta
Meu pai poderia se orgulhar se ele se lembrar disso.
Ah!Não quero ficar tocando no passado, essa maldita avenida não deixa eu cair no sono.
Tem muitos dias que desconheço o gozo do Sandman, de ficar me perturbando com as comparações entre a terra e o inferno.
A lição de moral mais absurda é que quando encostaram um calibre na minha cabeça, falaram se eu não tinha medo de morrer! Eu não tinha, hoje tenho aflição de dormir e fico pensando se eu morrer como as coisas ficarão?
Não vai ser como o Stevie Wonder, não será tão branco e sonoro, deverá ter chamas saltadas das notas e as noites sempre ficam sozinhas.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
mil demonios no corpo....
...ou uma gata listrada perdida no cemitério.
vou te avisando das próximas cenas, porém, já quero ir ao hotel.
bj
vou te avisando das próximas cenas, porém, já quero ir ao hotel.
bj
sábado, 17 de abril de 2010
certa manhã acordei de sonhos intranquilos
Como se isso bastasse pra afastar os brocardos malignos, essa percepção de cobardia; eu havia pedido que não piorasse meus dias nessa cidade.
Tão poucas vezes pareceu querer fazer o bem, e quase sempre me culpou por seus vícios e quis me inquietar com virtudes que não tinha.
A verdade é que eu não posso mais com nada disso.
Leve tudo de você de mim.
Deixa virar historieta de mesa de bar pra contarmos em outra década, bebendo vinho ou em outro estado, vou largar essa vida aqui e inventar outra.
Eu pedi pra não atirar, eu não sei mais esquivar.
E a Alejandra Pizarnik escreveu um dia:
"na outra margem da noite
o amor é possível
leva-me
leva-me entre as doces substâncias
que morrem a cada dia em tua memória"
... Silêncio. O amor é impossível.
Tão poucas vezes pareceu querer fazer o bem, e quase sempre me culpou por seus vícios e quis me inquietar com virtudes que não tinha.
A verdade é que eu não posso mais com nada disso.
Leve tudo de você de mim.
Deixa virar historieta de mesa de bar pra contarmos em outra década, bebendo vinho ou em outro estado, vou largar essa vida aqui e inventar outra.
Eu pedi pra não atirar, eu não sei mais esquivar.
E a Alejandra Pizarnik escreveu um dia:
"na outra margem da noite
o amor é possível
leva-me
leva-me entre as doces substâncias
que morrem a cada dia em tua memória"
... Silêncio. O amor é impossível.
terça-feira, 6 de abril de 2010
as janelas do paraíso
imagem: Henri Rousseau
estamos em ebulição, o que importa é liquidificar todos esses pensamentos.
acordo um sujeito feliz e depois com o passar das horas descubro que pareço ingênuo.
acreditar no amor?
posso fazer tantas coisas além disso!
posso continuar a escrever o meu conto, apertar um pouco mais a gravata ou sair andando.
você me disse um dia que poderíamos viajar para Allambra ou padecer nas montanhas, onde o vento arranca todas as mágoas.
não encontro mais aquele seu caderno, onde tinha as tais poesias proibidas.
você não me conta mais nada do seu dia, acho isso irrelevante.
acho que estou sofrendo por causa dos seus pensamentos.
estou vivendo sob a febre do amor.
segunda-feira, 5 de abril de 2010
quinta-feira, 1 de abril de 2010
la chinoise
o teu vestido esconde o mundo vermelho que Mao não mostrou.
me levando a conclusão de que você não existe, que pode ser apenas fruto de uma relação ordinária entre o meu coração e minha mente.
enquanto as pessoas sérias discutiam a abertura econômica e o desarmamento nuclear, meus ouvidos estavam voltados para a sua respiração.
o mundo estava desabando do lado de fora , nas matas onde estavam os professores que queimavam a carne do adultério estatal, também consumiam a liberdade monstrinhos travestidos de gente.
deixei de ser status quo, agora estou na marginalidade possível, fazendo parte de um grupo seleto de pessoas importantes.
você abandonou a idéia principal para participar de um reallity show, esqueceu que tínhamos uma bandeira a defender e que por causa dessa sujeira toda, ela naufragou na boca de lobo.
existe ainda o campo fluorescente.
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