quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

vade mecum

Boy fotografava aquela estrada cheia de corpos estendidos ao sul do deserto.
Tinha que ser rápido, a polícia estava atrás.
Era um registro para uma grande revista. Na sua pele estava escrito um destino diferente.
Foi enviado para o caminho do inferno. Ele queria estar lá. Outros garotos não.
Sua película revelava a aridez e o calor, a piedade de ser um sujeito apenas, abaixo de toda a morosidade.
As crianças apareciam sempre, como amuletos, de uma cidade fantasma.
Uma revolução para os olhos ocidentais, do ditador que mandava executar civis que não gostavam de comer todos os dias carne apodrecida ou ficar na fila esperando as cestas da ONU que nunca vinham cedo.
Um tiro na nuca e manda para a vala comum. Lá há uma grande incineração. Boy estava lá, tirando fotos dos corpos, em estado avançado de decomposição.
Muitas crianças e jovens mulheres.
O cheiro misturava-se com a areia. O sangue secara como lençóis no varal.
Ele não podia fazer isso, a ética estava no encalço.
O franzino fotógrafo, tinha revolta por viver dentre uma espécia que se diz humano.
Estava tudo alí, registrado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário