terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

vou morar no mato


Porque eu sempre tive fidúcia de que a vida ia bem além de mim, e que mesmo eu era um dom antigo de delírio, sedução e tramas em série, eu sou como fogueira em cólera, gritando no verão, num círculo de cantoria e bel-prazer.
E depois de tanto tempo eu voltei a sorrir, aquele aroma de mato me abriu os pulmões, as flores que eu vi, os corações que eu toquei, entre gargalhadas, abraços e a harmonia que há séculos não sentia.
Um raro de fleuma, dias alforriados pra sentir o vento, a água, o sabor doce da cachaça com mel aguçando meu paladar pra mandar tudo explodir quando a vida apertar... Vamos abençoar o fim, o começo e o meio. Não vamos maldizer a espécie, e respeitar o limite do nosso otimismo, saber chorar, vomitar, seguir...
O sol na pele: a cor que é minha.
Lá na cachoeira eu sentei e observei como o caminho da água mesmo cheio de pedras é certeiro e com isso eu pude consentir em mim que não preciso de um norte, preciso da vida, de não desistir nunca do telúrico e da humanidade.
A revolução que não venha, a natureza que dite a nossa ideologia, e antes de qualquer coisa, que deslumbre o nosso coração de cores, que invada nossa alma da mais fina flor, amores, amizades: com os pés na terra a cabeça pode voar pra longe!
E logo a mim tão entregue a dolorosa, coube amassar todos os temores como folha de papel e deixar o vento levar...
A água tão fria do lago purificava meu corpo; adormecendo-o, fazendo-me sentir tão somente o coração golpear, o sangue cáustico que nele se renova. Sim, porque meu coração e meu sangue são quentes, e eu descobri que ao contrário do que eu sempre senti: é no coração que o sangue se revigora, e estar vivo ainda é a maior ventura.

Um comentário:

  1. Que lindo amore! Senti tudo isso e mais um pouco lá tbm.

    Sem palavras.

    Amo-te

    Camila

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