domingo, 24 de janeiro de 2010

traídos...


Yara limpou os dedos com o guardanapo, calou-se enquanto as ondas batiam barulhentas nas pedras. Era a primeira vez que via o mar depois de ter deixado Marcos pra trás, depois de ter comido seu coração com pimenta e sal num prato branco.
Marcos já não ia trabalhar, acumulava meias em baixo da cama, sabia e negava que ele sim havia fodido com o resto da cena, matado o resto das reticências dentro de Yara.
Era alguma coisa como não saber mais nada sobre o sentir, alguma coisa como gritar e depois se contradizer, alguma coisa como por fogo no único lar que se tem. Alguma coisa como matar crianças satânicas que assolam tudo e gritam muito (mesmo que demônios, ainda são infantes), era algo como condenar por ausência de brandura quem foi deflorado. Era algo como um manifesto de três frases, algo como cinzas de cigarros numa blusa preta sem ter a ciência de quem os fumaram.
Era algo como não perdoar e esquecer.

Yara jamais iria ceder pra quem fosse. Opinião de tolo é que nem casa sem laje.
Marcos foi como um golfinho ensangüentado gritando num oceano longínquo.
Mil e quinhentas guerras se iniciam quando dois corpos se consomem e valem-se do sobrenome de amor.

Depois do motejo, ninguém mais ri, fica pra sempre um beijo, um cortejo e uma sensação sem nome, que custa passar. Quando passa.

Um comentário:

  1. Devo confessar, que tenho uma predileção pela literatura feita por mulheres. Aqui encontrei um bom aceno denotando que estou certo. Abraços!!!

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